sexta-feira, 26 de maio de 2023

O Rio e o frio

     

                                                        Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

    O Rio de Janeiro não é um lugar tão propício assim para casacos. A cidade tem um calor bem brabo e o inverno e outono, digamos assim, não são frios, mas apenas menos quentes e você consegue ir à praia facilmente. Porém, percebo que com o passar dos anos o verão fica mais quente e o inverno mais frio na Cidade Maravilhosa. Isso pode ser um problema, porque quando a temperatura é baixa, você ao ar livre quer usar o casaco. Mas em lugares fechados, a temperatura sobe. E aí você tira o casaco. Mas ao sair, tem que colocá-lo outra vez, fica um tira e bota louco. Isso é o frio no Rio de Janeiro! 

domingo, 11 de dezembro de 2016

O suave grito de uma vitória



Não queria escrever sobre futebol, durante um período era um assunto recorrente neste blog, por isso evitava falar para não ficar repetitivo. Há algum tempo que não estou muito ligado no esporte bretão, mas como hoje foi a última rodada do Campeonato Brasileiro e esse tema está em foco, vieram algumas lembranças na minha cabeça que quis compartilhar.
Sou botafoguense, minoria, que se nota não apenas quando você vai ao estádio e vê que a torcida rival está mais presente.  Ou não se nota apenas quando você lembra que tinha poucos colegas na escola que torciam para o mesmo time. Mas também percebe-se pelo número de gritos que você ouve de sua casa quando seu clube marca um gol. Quando é gol do Flamengo, aqui onde eu moro, é uma gritaria irritante, parece uma conglomeração de hunos urrando após uma vitória ou ao atacar um inimigo. Quando é gol do Vasco, Botafogo ou Fluminense, os gritos são curtos, longínquos, quase não se escuta.
Lembro que, há uns dez anos atrás,  quando o jogo era Botafogo X Flamengo, era muito difícil não saber o placar. Na época não tínhamos pay per view, e como esse clássico era sempre realizado no Rio de Janeiro, a única maneira de acompanhar era pelo rádio. Porém, eu ficava muito nervoso com futebol e o rádio só piorava com aquela narração acelerada e por isso não gostava de ligar esse aparelho. O jeito era esperar o término da partida, mas quando o gol era do Flamengo, era impossível não saber pois surgia uma multidão de gritos hunos rubro-negros que tomavam conta do ambiente sonoro. Quando a vitória era do Botafogo, ela vinha suave, com apenas um grito, longínquo, lembrava um pedido de S.O.S bem distante, quase imperceptível, tinha que correr para conseguir escutar,  parecia uma mensagem secreta que dizia “fogo, fogo, fogo”.  
Hoje, última jornada do Brasileirão, o Botafogo precisava vencer os reservas do Grêmio em Porto Alegre para garantir a vaga na Pré-Libertadores da América 2017. Para os gremistas, a partida seria disputada em clima de festa, pois seu time acabou de conquistar o quinto título da Copa do Brasil, tornando-se o maior vencedor desta competição, além de que seu maior rival Internacional estava sendo rebaixado para a Série B. Quando vi que o relógio marcava 18h55, imaginei que a rodada estava tendo seu desfecho. Então, lá de longe, bem de longe, conseguia escutar novamente aquela mensagem quase secreta que gritava: “fogo, fogo, fogo”. O alvinegro venceu os gaúchos por 1 a 0 e conquistou seu lugar na Pré-Libertadores. Parabéns a equipe, e sorte no ano que vem! 

domingo, 13 de novembro de 2016

Noites eternas



Quando o amanhã nos reserva algum tipo de tensão, seja por causa de uma prova, teste, viagem, entrevista ou qualquer outra situação, eu queria muito é que a noite da véspera durasse para sempre. Quando a angústia domina o corpo pelo que vai vir, desejo nestes momentos que o dia não passe, que o sol não chegue e que fique tudo escuro por um bom tempo. Normalmente, neste estado de nervosismo, o sono vai embora e eu costumo dormir bem tarde, quase na hora de acordar. Por isso não durmo bem, algo que não é aconselhável. Lembro nos tempos de colégio, com as temíveis provas de matemática/física/química no dia seguinte, e eu ali não queria dormir. Hoje, encaro esse momento que passou com humor e até um pouco de saudade, quando estava na escola o que mais queria era sair de lá e hoje sinto falta daqueles tempos que não tinha que me focar em outra coisa que não o boletim, atualmente minhas preocupações vão muito além disso.
Saber lidar com a tensão é uma das coisas que ainda estou aprendendo e sei que a vida ainda vai me dar muitos outros momentos de coração acelerado e muita respiração. Sei que ainda vou desejar muitas noites eternas, em que vou torcer para que o sol nunca apareça e que o sono nunca chegue. É nesses momentos de ansiedade que a saudade bate, de alguma coisa no passado que nunca voltará, de tentar se consolar em uma lembrança boa para esvaziar o nervosismo. É também ali que vou aprendendo a controlar essa tensão toda, e saber que depois que ela passar vou me sentir bem, e que a outra noite não vai precisar ser eterna e poderá ser muito bem dormida. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Generalizações e superficialidade


     Tome cuidado com as generalizações. Não é porque um argentino é chato, ou babaca, ou mau-caráter ou porque faz catimba no futebol que todos os nascidos nesse país também vão ter essas características. Aliás, me incomoda todo esse preconceito e estigma contra nossos vizinhos. Não é porque uma pessoa de um tal lugar tem um defeito que todos os seus conterrâneos vão ter.  Não é porque alguém tem uma opinião que outros vão ter a mesma.
     Vou dar um exemplo. Morei na Espanha por seis meses e lá conversei muito sobre cinema.  Conheci uns três que não gostavam do Almodóvar. Como isso é possível?? Eu acho ele um dos melhores cineastas de todos os tempos e no Brasil muita gente gosta dele. Eu fiquei surpreso por essa opinião que ouvi por bandas ibéricas, poderia muito bem falar que o povo da língua castelhana não gosta do diretor de “Fale com Ela”, mas será que só três opiniões vão ditar tudo? Refleti, e achei melhor dizer que ouvi pensamentos pouco favoráveis ao Almodóvar, mas não que toda a Espanha desaprova seu próprio artista. Até porque nunca se fez uma pesquisa do Ibope sobre o assunto.
      Essas  generalizações são comuns. Ao pensar em uma pessoa, a lembrança sobre sua opinião, hábito e maneira de se vestir já é estendida para todo um povo de um país, estado ou cidade.  Acho melhor não fazer assim, cada um é cada um, e pode ter pensamentos e características diferentes do comum.
     Outra coisa um pouco semelhante às generalizações são a superficialidade quando se fala de conhecimento. Superficialidade é  não se aprofundar sobre uma questão e ao debater sobre ela,  o indivíduo reproduz coisas que “ouviu por aí” ou que subentendeu sem nem ter pesquisado nada. Vejo esta pouca compreensão semelhante às generalizações porque em ambos os casos, você pega um fato e já o prolonga para um todo, sem mesmo se dar o trabalho de ouvir ou pesquisar mais.
     Quando um assunto está em pauta, tente saber mais, não saia copiando falas de outros, crie você mesmo uma opinião. Não estou querendo neste post me referir a qualquer tema que esteja em foco em manchetes dos jornais. Só digo isso para que quando alguém entrar em um debate, seja em uma festa, universidade, rua, reunião de família ou em uma palestra, saiba se impor com ideias  e não se basear apenas em frases curtas  que “escutou por aí”. Dessa forma, pode ser massacrado pelo outro lado,se este possuir um ponto de vista com dados e estatísticas consistentes.
     Logo, o que mais quero dizer neste post é: se quer formar uma opinião, pesquise mais, leia mais e traga argumentos, e não apenas falas curtas e com pouca profundidade.    

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Brisa de uma alegria



     Acho que para muitos a vida pode ser uma balança entre otimismo e pessimismo, ou entre positividade e negatividade.  Pelo menos para mim é assim.  Acredito ser mas pessimista do que otimista, sou uma pessoa muito agoniada, com mais incertezas do que esperanças percorrendo a mente.  Quando alguma coisa dá certo, vem um pensamento positivo e parece que outras coisas, sem relação nenhuma com a que deu certo, vão ficar bem e todos os problemas vão se resolver. Mas, como disse antes, sou mais pessimista, e fico mais na paranoia do que na esperança, coração mais acelerado do que tranquilo. Estou tentando melhorar isso, e um dia chego lá!
     Nessa semana o tempo no Rio de Janeiro é chuvoso, frio, e com isso vem uma gama diferente de sensações. Às vezes, a chuva me dá um sentimento de tranquilidade em meio ao nervosismo, mas é um pensamento meio louco: como se tudo fosse ficar melhor porque os pingos iriam diminuir o ritmo da cidade, como se todos fossem parar e não sair de suas casas por causa da água. E se ninguém sai de casa, não devo me preocupar com nada, tudo vai ficar parado e não há razão para ficar angustiado. É um pensamento louco, eu sei, mas pode ajudar.
     Porém, a chuva também traz agonia, principalmente nos domingos chuvosos e friorentos (como já escrevi em outro texto deste blog). A tensão pelo início de mais uma semana é aumentada pelo tempo gelado que espalha meu pessimismo e só com muito sol no dia seguinte para melhorar.
     O sentimento positivo mais gostoso é aquele que surge na adversidade.  Quando pensamos que tudo vai dar errado, inesperadamente chega uma sensação boa que toma o corpo e dali achamos que as coisas vão ficar bem. Estar bem em momentos ruins é uma sensação que, pelo menos para mim, é bem rápida, e logo volta a reinar o pessimismo. 
     Neste atual clima polar carioca, vieram as brisas, essas sim, causadoras de uma felicidade. Toda vez que vem uma brisa na cara, a sensação é boa.  No verão a brisa é como água no deserto, como fogueira na Antártica, garante um tempinho de felicidade em meio a tanto caos. Brisa na cara é uma alegria, pelo menos para mim.
     Vamos ver por quanto tempo dura esse frio. Como disse antes, baixas temperaturas dividem meus sentimentos, mas agora estou gostando desse clima. Só não queria tanta chuva, para de cair gota!

domingo, 25 de setembro de 2016

Noites no ônibus



Um prazer que tenho que talvez outros considerem estranho é o de, quando voltar para casa de noite, voltar de ônibus vazio. Esse retorno nesse transporte é um bom momento para reflexão contínua, e é melhor com poucos passageiros para que nenhum zunido atrapalhe os pensamentos. Aí você pode estranhar eu dizer isso pois o ônibus tem um forte barulho quando se locomove. Porém, já sou tão acostumado com o som desse motor que nem ligo. Vou te dizer que, só para me distrair, gosto de lembrar de situações engraçadas, e até posso rir sozinho sem problemas, porque se não tem muita gente no veículo, poucos vão notar o que estou fazendo. Quando alguém, desacompanhado, ri na calçada, shopping ou em um ônibus cheio, mesmo que seja comedido, já é visto como estranho, um louco, alguém que você deve manter alguma distância. Eu não vejo dessa forma, acho que rir sozinho pode ser uma maneira de se entreter, é só não ser espalhafatoso para não atrapalhar ninguém.
Você pode argumentar que há outros meios de transporte como o metrô, táxi ou Uber, mas nenhum deles me traz a boa sensação do ônibus. No metrô, não se pode abrir a janela e não vai ter nenhuma vista bonita e nem vento bom na cara. Táxi e Uber são mais rápidos e confortáveis, mas, por estar só com o motorista, não tenho a privacidade que teria voltando em uma linha 409 com poucos passageiros.
Aos poucos, vamos descobrindo que a vida é feita de pequenos prazeres, que podem ser estranhos para os outros, mas, se para nós é prazer, devemos aproveitá-los, porque se não, fica difícil viver.


sábado, 17 de setembro de 2016

Tenores desbocados

                                                          Foto: uol.esporte.com.br


           Depois de muito tempo ausente, comecei novamente a frequentar jogos de futebol. A arquibancada continua a mesma. Muitos insultos, gritos, comemorações, piadas, risos, cantos, emoções, alegrias e tristezas.  Pessoas calmas em seu cotidiano se transformam quando torcem para o seu clube. Há o prazer de xingar, seja quem for. Se o time perder, sempre haverá um culpado: jogadores, árbitro ou treinador. Não se pode negar que há muita raiva emitida nos estádios, é o local onde o povo gosta de esbravejar.
Um dos fatos mais curiosos disso é a altura dos gritos. Xingamentos atingem agudos impressionantes, talvez mais do que Pavarotti. Será que este já falecido tenor italiano conseguiria gritar “filho da ...” em um agudo tão forte como um torcedor furioso do Botafogo?  Será que o famoso tenor espanhol Plácido Domingo conseguiria gritar um “toma no ...” como um raivoso torcedor do Flamengo? Acho que não, as arquibancadas brasileiras são formadoras de agudos insuperáveis de tenores desbocados.
Se um cantor do naipe baixo, com uma voz muito grave, entrasse no estádio e começasse a desferir xingamentos não seria a mesma coisa. A voz ficaria na arquibancada, e não atingiria os sofridos tímpanos dos bandeirinhas, os que mais sofrem pelos insultos. Quando se trata de alcance, os tenores das arquibancadas são insuperáveis, você que já foi em algum jogo de futebol deve notar que sempre há um deles na torcida.
O futebol cria personagens, como jogadores, juízes, técnicos, dirigentes e é claro, os torcedores. Há torcedores que se fantasiam, que criam músicas, que pulam, que dançam e os tenores, sempre desbocados, mas que sempre estarão ali, apoiando o seu clube.